Em um avanço promissor para a ciência, pesquisadores da University College London (UCL), no Reino Unido, conseguiram reproduzir em laboratório uma reação química que pode ter sido fundamental para o surgimento da vida na Terra. O estudo, publicado na revista Nature em 27 de agosto, indica que moléculas simples poderiam ter se unido para formar as primeiras proteínas, antes mesmo do surgimento das células.
A origem das proteínas, componentes essenciais para todos os organismos vivos, sempre foi um enigma, especialmente em cenários sem a presença de enzimas complexas. Para que essas estruturas se formem, é necessário que os aminoácidos — considerados os blocos fundamentais da vida — se liguem ao RNA, molécula responsável pelo armazenamento e transmissão da informação genética.
No experimento conduzido pelos cientistas, foi demonstrado que certos aminoácidos conseguem se ligar ao RNA de forma seletiva e em ambientes aquosos, utilizando compostos conhecidos como aminoacil-tióis. Essas substâncias já eram consideradas plausíveis na Terra primitiva e permitiram que a reação ocorresse em condições amenas, semelhantes às do planeta em seus primeiros bilhões de anos, sem gerar cadeias indesejadas.
Entre os aminoácidos utilizados no teste estavam a glicina, lisina e arginina — sendo esta última identificada com um papel catalítico até então inédito. A pesquisa contribui para a conexão entre duas hipóteses sobre a origem da vida: o “mundo do RNA”, que sugere o RNA como primeiro portador de informação genética, e o “mundo dos tióesteres”, que propõe o uso de compostos simples como fontes de energia para as reações iniciais da biologia.
Uma revelação adicional do estudo mostra que, a depender da ativação química aplicada, a reação pode tomar diferentes rumos. Em algumas situações, favorece a ligação direta dos aminoácidos ao RNA; em outras, promove a formação de peptídeos — cadeias que mais tarde dariam origem às proteínas. Esse processo pode representar uma forma primitiva do que mais tarde se tornaria o ribossomo, estrutura essencial na produção proteica das células.
O trabalho representa um avanço relevante na compreensão das origens da vida, oferecendo pistas concretas sobre como as primeiras moléculas orgânicas complexas podem ter surgido em um ambiente abiótico.