terça-feira, setembro 9, 2025
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Que independência é essa que festejamos no Brasil?

“Houve um tempo – bem remoto, é verdade – em que o 7 de setembro era de fato o ‘Dia da Independência’ e as famílias saíam às ruas, em paz e harmonia, para assistir aos desfiles e às paradas cívico-militares, celebrando a soberania conquistada em 1822.

Lembro-me com saudosa memória destes feriados ensolarados em Brasília – minha cidade natal, onde vivi até os 10 anos -, no Eixo Monumental (Eixão) lotado, junto aos meus pais e irmãos, vizinhos e colegas de escola, também com seus familiares.

Parentes que vinham de outros estados, moradores das cidades satélites e diversas autoridades estrangeiras costumavam prestigiar a cerimônia. E, a despeito do ufanismo e do patriotismo (sempre brega) da época, era um evento bem legal.

Particularmente, como criança, jamais soube ou percebi a opressão do regime militar, e mesmo a presença de um soldado sempre armado com um fuzil, à porta da minha casa, dia e noite, porque o vizinho era um ministro de Estado, não me parecia estranho.

Eu morava na 208 sul e a quadra ao lado, a 209, era majoritariamente habitada por militares, que os adultos, pejorativamente, chamavam de “milicos”. Na escola, havia uma tal ‘hora cívica’ e ensinava-se OSPB (Organização Social e Política Brasileira).

Até hoje me lembro dos hinos oficiais e das músicas em louvor à pátria. Se eram, ou não, um culto à ditadura militar, eu nunca soube nem percebi. Mas havia um sentimento de unidade verdadeiro naqueles dias, independentemente das questões políticas.

Após a redemocratização em 1985, e até a primeira eleição de Lula em 2002, o 7 de setembro se manteve relativamente longe da política e perto da sua origem. Infelizmente, o chefão petista, precursos do odiento ‘nós contra eles’, deu início à partidarização da data.

O lulopetismo transformou o Dia da Independência em espetáculo de proselitismo político e palco de campanha eleitoral. Desde o segundo mandato de Dilma Rousseff, barreiras separando petistas e antipetistas geralmente são montadas nos desfiles em Brasília.

Outrora festa de famílias e do país, o 7 de setembro, sequestrado por populistas e seus seguidores fanáticos, sobretudo após a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, tornou-se mero pretexto pra comício eleitoral, reforçando a cisão da sociedade e o desprezo pela pátria.

Este domingo promete ser ainda mais triste e pior, pois bolsonaristas, por todo o Brasil, não só se esquecerão dos princípios verdadeiramente patrióticos, como pedirão – outra vez – atos antidemocráticos, anistia para golpistas e até por intervenção estrangeira.

Líderes políticos do bolsonarismo farão discursos raivosos contra o Judiciário nacional, ao mesmo tempo em que, junto aos seus fanáticos, louvarão as tarifas americanas e a Lei Magnitsky, carregando faixas escritas ‘Trump’ e bandeiras de Israel.

Lado oposto, os lulopetistas os acusarão de ‘traidores da pátria’, demonizarão os ricos do país, defenderão mais impostos, farão juras de amor aos pobres, prometerão picanha e cerveja gelada se vencerem as eleições do ano que vem e blá blá blá.

Eu tive a oportunidade de participar duas vezes do 4 de julho – Independecy Day – em Nova York, nos Estados Unidos. E também do 17 de maio – Nasjonaldagen (Dia Nacional) ou Grunnlovsdagen (Dia da Constituição) – em Oslo, na Noruega.

São festas belíssimas, datas em que seus povos verdadeiramente celebram as pátrias onde vivem. Na Noruega, especialmente, onde todos saem às ruas com roupas típicas, é realmente admirável – e encantador para um observador estrangeiro.

Nessas duas oportunidades, me lembrei da minha infância e dos desfiles em Brasília. Ao final, indo para casa, em ambas ocasiões, me questionei em silêncio: ‘Quando foi que nos perdemos como povo e nação? Será que um dia nos reencontraremos?” 

Fonte: Flávio Gomes de Barros

Fonte: Política Alagoana

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