segunda-feira, julho 14, 2025
spot_img
HomePolíticaQuais impactos os acordos dos Brics trarão para o Brasil na prática

Quais impactos os acordos dos Brics trarão para o Brasil na prática

A 17ª Cúpula de Líderes do Brics chegou ao fim nesta segunda-feira (7/7), após dois dias intensos de debates sobre conflitos geopolíticos, meio ambiente e outras questões globais relevantes. Ao término do encontro, os representantes dos países membros assinaram quatro comunicados que abordam temas como financiamento para o combate às mudanças climáticas, inteligência artificial, cooperação na área da saúde, além da declaração final, que gerou controvérsias.

O que é o Brics?

  • O Bric foi criado em 2001 por Jim O’Neill, economista do Goldman Sachs, ao se referir a Brasil, Rússia, Índia e China como economias emergentes com grande potencial de crescimento até 2050.
  • Inicialmente, o Bric era apenas uma recomendação para investidores, no entanto, a formalização do grupo aconteceu em 2006 na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) com a primeira reunião ministerial informal.
  • O trabalho conjunto ganhou força depois da crise financeira de 2008, seguido pela primeira cúpula de chefes de Estado em 2009, na Rússia. No ano seguinte, em 2010, se formalizou a entrada da África do Sul, oficializando o “S” no acrônimo: Brics.
  • Apesar das diferenças culturais e regionais, os membros do Brics compartilham um vasto território com uma população numerosa, além de um rápido processo de industrialização.
  • Agora, fazem parte do Brics: África do Sul, Arábia Saudita, Brasil, China, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia, Índia, Irã e Rússia.

Haroldo Ramanzini Junior, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), considera que a participação do Brasil nos Brics é estratégica, já que o país busca renovar sua representatividade em instituições internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU.

“A atuação na Presidência dos Brics fortaleceu a posição do Brasil como ator global com credenciais diplomáticas sólidas e que defende o multilateralismo, a paz, o desenvolvimento sustentável e as normas internacionais”, explica Ramanzini.

O professor da UnB ainda destaca a cooperação científica para produção de vacinas e o combate a doenças socialmente determinadas. “São todas dimensões com potencial de impacto concreto na melhoria da vida das populações. Além disso, o Brasil se beneficia do fato de ser membro fundador e fazer parte do Novo Banco de Desenvolvimento, também chamado de Banco dos Brics, que já financiou (e financia) uma série de projetos no país.”

Distância?

Eduardo Galvão, professor de relações internacionais do Ibmec e diretor de Public Affairs da consultoria global Burson, ressalta que, embora a declaração possa parecer distante da rotina do cidadão comum, ela pode impactar diretamente a saúde, a economia e a proteção ambiental dos países envolvidos.

“O grupo quer garantir que países emergentes tenham acesso mais justo a financiamentos internacionais. Isso pode se traduzir, na prática, em empréstimos com juros mais baixos para infraestrutura, educação, saúde e inovação. Quando o dinheiro circula com menos amarras, os serviços públicos chegam com mais força”, destaca Eduardo Galvão.

De forma semelhante, Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), destaca que a reivindicação por uma reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), presente na declaração, pode influenciar diretamente o acesso ao crédito pela população em geral.

“Pode ter um impacto na busca de maior representatividade e voz para os países em desenvolvimento na governança da instituição. Para as finanças dos países membros, eu diria que o acesso mais justo à linha de financiamento, com menor imposição de políticas que dificultam o desenvolvimento nacional”, enfatiza Pimentel.

“Uma maior previsibilidade e estabilidade nos fluxos financeiros internacionais, caso a reforma contemple mudanças na forma de alocação dos direitos especiais de saque – uma moeda que existe e que ajuda muito nessa governança internacional – também pode ser benéfica. E, dependendo das circunstâncias e das condições, uma redução da dependência de fontes externas com juros mais altos pode ocorrer, se ampliar a capacidade de resposta do FMI às crises nos países em desenvolvimento, com instrumentos mais eficazes para atender esses países”, finaliza Fernando Pimentel.

Divergências

O texto da cúpula chamou atenção ao condenar os ataques ao Irã ocorridos em 13 de junho, porém sem mencionar os responsáveis pela ofensiva, Estados Unidos e Israel. Além disso, o documento sugere que a solução para o conflito na Faixa de Gaza passa pelo reconhecimento dos dois Estados, Israel e Palestina, o que gerou críticas do chanceler iraniano presente na reunião. “A solução de dois Estados, que vem sendo repetida há anos, não chegou a lugar nenhum”, afirmou ele.

Por sua vez, os Estados Unidos foram poupados no trecho referente ao aumento das taxações no comércio internacional. Embora o documento manifeste preocupação com o “aumento indiscriminado de tarifas”, não faz menção direta às políticas comerciais adotadas pelo presidente Donald Trump.

Após a divulgação do comunicado, o presidente Donald Trump ameaçou impor uma tarifa de 10% a “qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics”. Em resposta, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que os países têm o direito de aplicar o princípio da reciprocidade.

Ao longo da cúpula, Lula defendeu o multilateralismo e a participação dos países nas discussões sobre medidas econômicas. Essa postura do petista tem sido constante em diversos fóruns internacionais, especialmente diante da ascensão de Trump e da sua agenda protecionista.

Eduardo Galvão destaca que a rejeição ao protecionismo pode ampliar o acesso dos produtores brasileiros a novos mercados, o que deve resultar em preços mais baixos para o consumidor final. “A diplomacia pode parecer algo distante, até o momento em que ela influencia o preço da energia, o remédio disponível na unidade de saúde ou o mercado que compra o café da sua região. O desafio atual é transformar essas promessas em políticas concretas e assegurar que o multilateralismo funcione não apenas entre governos, mas principalmente para quem mais depende dele: o cidadão comum.”

Fonte: Política Alagoana

RELATED ARTICLES
- Publicidade -spot_img

NOTÍCIAS POPULARES