A decisão do governo dos Estados Unidos de aplicar uma taxação adicional de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, a partir de 1º de agosto, pode atingir diversos segmentos da indústria nacional. Em Alagoas, o impacto direto será no setor sucroenergético, que vê na medida um risco concreto de prejuízos irreversíveis para a economia local, com efeitos em cadeia sobre investimentos, empregos e faturamento das usinas.
De acordo com o Sindaçúcar-AL (Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool no Estado de Alagoas), se o “tarifaço” for de fato implementado, os o setor pode ter perdas econômicas irreparáveis.
O principal motivo é o comprometimento da chamada Cota Americana, um instrumento comercial que garante ao Brasil o direito de exportar um volume mínimo de 150 mil toneladas de açúcar anualmente para os EUA com isenção tarifária.
Alagoas, historicamente, tem sido o maior beneficiário dessa cota, respondendo por cerca de 50% de todo o volume exportado pelo Brasil nesse regime preferencial. Só nos últimos anos, segundo estimativas da equipe técnica do Sindaçúcar-AL, o estado tem embarcado em média mais de 80 mil toneladas por ano, o que corresponde a aproximadamente 15% do total exportado pelas usinas alagoanas para o mercado internacional.
A importância da cota não está apenas no volume, mas no valor. O mercado norte-americano paga, em média, 100% a mais pelo açúcar brasileiro do que outros mercados. Com isso, a receita oriunda das exportações para os EUA representa mais de 20% do faturamento internacional das usinas alagoanas.
“O problema não está na dificuldade de encontrar outros compradores para o nosso açúcar, mas na diferença de preço. Se formos obrigados a buscar outros mercados, não conseguiremos manter o mesmo nível de receita. E isso afeta diretamente a saúde financeira das empresas, os investimentos futuros e, sobretudo, os empregos”, alerta Pedro Robério de Melo Nogueira, presidente do Sindaçúcar-AL.
A preocupação é justificada. O setor sucroenergético é um dos principais empregadores da indústria de transformação em Alagoas, com forte impacto na economia dos municípios do interior. São mais de 60 mil empregos diretos. A eventual perda de receita pode comprometer desde o pagamento da folha salarial até a manutenção de programas de modernização industrial.
Pedro Robério defende que o governo brasileiro mantenha diálogo diplomático contínuo com os EUA para tentar reverter ou minimizar os efeitos do tarifaço. “Vivemos um momento de apreensão. Ainda não está claro como essa taxação será aplicada, nem quais produtos serão atingidos. Mas já sabemos que o impacto sobre nossa indústria será enorme. No caso de Alagoas, as perdas são irreparáveis, porque a Cota Americana se tornará nula. E outros estados também serão atingidos”, enfatiza.
A Federação das Indústrias do Estado de Alagoas (FIEA) também se posicionou contra a medida norte-americana, classificando-a como “injustificável”. Em nota, a entidade lembrou que os Estados Unidos foram o terceiro maior destino das exportações alagoanas em 2024, com mais de US$ 61 milhões em embarques, sendo o açúcar o principal item comercializado.
“O impacto será direto sobre empregos, investimentos e competitividade da indústria. Esperamos que prevaleça o diálogo diplomático e comercial, com vistas à manutenção de uma relação estratégica entre os dois países”, afirmou o presidente da FIEA, José Carlos Lyra de Andrade.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) também criticou a decisão dos EUA, classificando a nova tarifa como prejudicial à previsibilidade dos contratos comerciais, além de representar um retrocesso nas relações comerciais entre os dois países.
O que é
A cota americana de açúcar para o Brasil é um volume limitado de açúcar que pode ser exportado para os Estados Unidos com tarifas reduzidas ou isentas. Atualmente, a cota é de 152 mil toneladas anuais. Essa cota é importante para as usinas do Norte e Nordeste, regiões produtoras de açúcar que são beneficiadas por uma lei de incentivo do governo federal e são as únicas que podem neste sistema.
Fonte: Blog do Edivaldo Júnior