Inovar no campo pode transformar pequenas propriedades rurais em negócios rentáveis e sustentáveis. É o que mostram os resultados de agricultores atendidos pelo programa ALI Rural, do Sebrae Alagoas. Produtores como Romário Araújo, de Mar Vermelho; Maria José, de Pindoba; e Reginaldo Barbosa, de Girau do Ponciano, conseguiram melhorar a produtividade, aumentar a renda e alcançar mais qualidade de vida ao adotar práticas inovadoras com o apoio técnico oferecido pelo projeto.
No caso de Romário Araújo, que trabalha com hortaliças, a mudança foi significativa. Antes do programa, ele sequer sabia calcular seus lucros. Hoje, abastece cinco escolas, comercializa seus produtos em comunidades de Mar Vermelho e até na Ceasa, em Maceió. Com a renda em crescimento, o agricultor já faz planos para comprar um veículo e expandir ainda mais sua clientela.
“Só não conseguimos vender mais porque ainda não temos um carro para levar as verduras até Paulo Jacinto, Pindoba, Palmeira dos Índios e Maceió. Mesmo assim, passei a vender para uma pessoa na Ceasa uma média de R$1.200 por mês em coentro e alface. Antes, eu nem sabia se estava ganhando ou perdendo com as vendas, mas uma das primeiras coisas que aprendi com o ALI Rural foi anotar tudo: os gastos, os ganhos e o lucro real. Hoje, tenho cerca de 200 clientes anotados no meu caderno”, contou Romário.
Para Maria José Conceição Zacarias, mais conhecida como Marilene, transformar a realidade no campo começou com uma mudança na forma de pensar. Depois de enfrentar diversas perdas nas plantações de coentro e alface, em Pindoba, ela encontrou no programa de inovação rural uma alternativa promissora para superar os desafios.
“Antes eu achava que os ensinamentos dos nossos pais, que aprenderam com os pais deles, eram o que funcionava na roça. Mas toda vez que eu plantava, de acordo com o que tinha aprendido, dava errado e eu perdia tudo. Como eu não sabia onde estava o erro, repetia o processo e perdia de novo. Só depois do ALI Rural foi que entendi que nem sempre aquilo que aprendemos com nossos pais estava certo. Eles não tinham as informações que temos hoje”, conta a agricultora.
Com as visitas dos bolsistas do programa e a implantação das inovações, os resultados foram rápidos. “Corrigi os erros e melhorei a minha produtividade. Também passei a entender mais sobre vendas e melhorei meu capital. Hoje eu indico outros produtores para participar do programa e digo a eles que, com dedicação para colocar em prática tudo que é ensinado, a vida deles também vai mudar”, completou.
As inovações no meio rural não se limitam apenas às técnicas no campo, mas também fortalecem a gestão e o crescimento dos negócios. Foi o que aconteceu com Reginaldo Barbosa da Silva, de Girau do Ponciano. Com o apoio da família, ele desenvolveu a marca Sabor do Agreste, cujo destaque são as tradicionais “misturadas” — cachaças artesanais saborizadas com frutas, raízes, caules e sementes.
A iniciativa é um exemplo de como a combinação entre tradição e inovação pode gerar novos mercados e oportunidades no meio rural, valorizando a cultura local e aumentando a renda das famílias agricultoras.
“A Sabor do Agreste nasceu como um projeto familiar, então tinha muita coisa sobre administração de negócios que a gente não conhecia. Com o programa, conseguimos melhorar em muitos aspectos, desde o rótulo até as redes sociais, o que facilitou as vendas. Também aprendemos sobre controle de estoque e fluxo de caixa. Hoje sabemos que a nossa misturada vende mais nos meses mais frios. Na época de calor as pessoas preferem bebidas geladas e as nossas vendas caem. Para manter as vendas nesse período, passamos a comercializar também pimentas e mel”, destacou.
Mais de 700 produtores impactados em dois anos de programa
Histórias como as de Romário, Marilene e Reginaldo fizeram parte das reuniões coletivas promovidas pelo ALI Rural nas regiões do Sertão, Agreste e Metropolitana de Maceió. Desde que foi implantado em Alagoas, em 2023, o programa do Sebrae já impactou diretamente a vida de 760 produtores rurais em mais de 70 municípios, promovendo transformação pessoal, profissional e resultados concretos no campo.
Com foco na inovação e na modernização das práticas agrícolas, o ALI Rural oferece aos participantes orientações especializadas, acompanhamento personalizado e ações práticas para melhorar a gestão, os processos produtivos, a sustentabilidade e as estratégias de comercialização. De acordo com a gestora do programa, Jaqueliny Martins, o objetivo é fortalecer o empreendedorismo rural, tornando as pequenas propriedades mais eficientes e rentáveis.
“O Projeto ALI Rural do Sebrae é uma iniciativa com o propósito de fortalecer os pequenos negócios rurais, por meio de ações de promoção do extensionismo tecnológico, estímulo à pesquisa e desenvolvimento de processos inovadores. Os produtores são acompanhados por bolsistas que auxiliam no fortalecimento dos negócios, estimulando o trabalho em rede e proporcionando o surgimento de inovações dentro do ambiente agrário”, explicou.
Os produtores rurais que relataram suas experiências durante os encontros coletivos estão concluindo sua jornada no programa. Em agosto, será iniciado o 4º Ciclo do ALI Rural, que vai selecionar mais 210 produtores para participarem da nova etapa. Ao longo de um ano, esses empreendedores do campo receberão, de forma totalmente gratuita, orientações e ações voltadas para impulsionar seus negócios.
Para se inscrever, é necessário atender a alguns critérios: possuir CNPJ, Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF) ou Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), além de comprovar a comercialização de seus produtos.
“A jornada do ALI Rural foi desenvolvida em 12 encontros presenciais, em que são apresentadas ferramentas de inovação que são desenvolvidas nas propriedades. Nesse período, são realizados dez encontros com os bolsistas, dentro das propriedades, e dois encontros coletivos, como esses que realizamos agora, nos quais os produtores mostram seus resultados a aproveitam para fazer networking. Desse modo, o Sebrae atua diretamente no ecossistema de inovação e contribui de forma efetiva para o desenvolvimento de pequenos negócios rurais e dos sistemas produtivos nacionais”, declarou Jaqueliny.