A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) marca uma nova fase na pré-campanha da direita brasileira, que já vinha enfrentando divisões internas em torno da sucessão do ex-presidente. Com o novo cenário, há expectativa no PL de que figuras como os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Júnior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) sejam pressionadas a adotar um discurso mais radical para não perder espaço entre os eleitores bolsonaristas mais fiéis.
Até então, o cenário político – tanto na base petista quanto no próprio PL – apostava que a prisão de Bolsonaro só ocorreria em novembro, após a conclusão do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a suposta tentativa de golpe. Essa previsão permitiria ao ex-presidente organizar a sucessão com mais tempo, articulando um nome viável para disputar a Presidência e, possivelmente, condicionando o apoio a um compromisso com um indulto presidencial.
A prisão domiciliar de Bolsonaro:
- Moraes decretou a prisão domiciliar do ex-presidente da República Jair Bolsonaro nessa segunda-feira (3/8);
- O ministro entendeu que houve o descumprimento de medidas cautelares;
- O estopim foi a participação do ex-presidente, via telefone, em uma manifestação bolsonarista, no último domingo (3/8), no Rio de Janeiro;
- A participação foi republicada pelos filhos Carlos e Flávio Bolsonaro nas redes sociais;
- Bolsonaro estava proibido de ausentar-se do país, com uso de tornozeleira eletrônica, e obrigado a recolhimento domiciliar no período noturno (das 19h às 6h) e nos fins de semana;
- A cautelar descumprida foi a de utilizar redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros.
Com a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, o PL passou a enxergar um fortalecimento inicial das pré-candidaturas de nomes mais diretamente ligados ao ex-presidente. Figuram nessa lista os filhos Flávio Bolsonaro (senador pelo RJ) e Eduardo Bolsonaro (deputado por SP), além da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro — todos filiados ao partido e com grande apelo junto à base bolsonarista.
Afastado do cenário político por medidas que o impedem de receber visitas, fazer ligações ou participar de articulações, Bolsonaro deixará um vácuo que antecipa o momento decisivo para os que disputam sua sucessão. Para aliados próximos, o comportamento dos quatro governadores cotados como possíveis herdeiros do bolsonarismo — Tarcísio, Zema, Caiado e Ratinho Júnior — será decisivo até a manifestação programada para o 7 de Setembro.
Também há receio entre dirigentes da direita de que a saída precoce de Bolsonaro das articulações políticas aumente as disputas internas. No PL, ele era visto como peça-chave para mediar conflitos e definir rumos estratégicos. Um exemplo recente foi sua intervenção direta para pôr fim ao embate entre Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas sobre as tarifas impostas ao Brasil por Donald Trump.
PL analisa posicionamentos
O PL intensificou a vigilância sobre os posicionamentos públicos dos governadores alinhados à direita, especialmente após a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro. Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, gerou descontentamento entre os aliados ao demonstrar apoio ao ex-presidente sem mencionar o ministro Alexandre de Moraes. Por ter integrado o governo Bolsonaro, esperava-se dele uma postura mais firme contra o magistrado do STF.
Por outro lado, Ratinho Júnior seguiu um tom semelhante ao de Tarcísio, mas sua fala foi recebida com mais tolerância. Como governador de centro-direita e aliado mais recente de Bolsonaro, não se esperava que fizesse críticas diretas ao Supremo. Ronaldo Caiado, por sua vez, preferiu uma abordagem mais analítica e afirmou que Bolsonaro estaria sendo condenado antes mesmo de ser julgado, também evitando citar nomes da Corte.
A única exceção foi Romeu Zema. O governador de Minas Gerais adotou um discurso mais duro e foi direto ao apontar Moraes como responsável pela prisão domiciliar de Bolsonaro. Em sua publicação, afirmou que se tratava de mais um episódio de perseguição política e denunciou o que chamou de “democracia do silêncio e do medo”, expressando solidariedade ao ex-presidente e sua família.