quinta-feira, abril 24, 2025
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PC investiga caso de empresária que fugiu do país para escapar de violência do ex-marido

Vítima diz que sofre abusos há 16 anos e resolveu denunciar ex-companheiro à polícia por violência física, psicológica e patrimonial

A Polícia Civil de Alagoas (PC/AL) instaurou inquérito para investigar um caso de violência doméstica envolvendo a empresária Giuliana Omena, que denunciou nas redes sociais ter sofrido abusos em um relacionamento de quase 16 anos.

Em vídeos divulgados pela própria  vítima, proprietária de uma loja de roupas em Maceió, ela relata que viveu um relacionamento abusivo por muitos anos e que demorou a compreender a gravidade do que enfrentava. Para ela, a percepção de violência estava restrita à agressão física, só percebendo, hoje, que há outros tipos de abusos.

“Na minha cabeça, eu achava que vivia episódios isolados e extremamente pontuais. O que, definitivamente, não foi. Isso aconteceu, pelo menos, uma centena de vezes”, contou.

Escritório destruído, traições e tentativa de internamento 

De acordo com a empresária, de 33 anos, o controle emocional exercido pelo ex-companheiro (e também ex-sócio) era constante. Em relatos publicados nas redes sociais, ela revelou que decidiu sair do Brasil por temer pela própria vida.

Giuliana relatou que o relacionamento, iniciado quando ela tinha 17 anos, foi marcado por episódios recorrentes de abuso.

“Eu temo pela minha vida, do que pode acontecer. Eu vivi um relacionamento abusivo durante muitos anos. Apesar de ser completamente contrário do que vocês viam nas redes sociais e do que eu mostrava. E até eu mesmo demorei a entender as nuances do que é um relacionamento abusivo, do que é uma violência doméstica, na minha cabeça eu achava que eu vivia episódios isolados. O que definitivamente não foi”, disse.

Além disso, a empresária relatou episódios de traições, convivência forçada com outras mulheres em casa e no ambiente de trabalho, além do desaparecimento de valores da empresa. Ela afirmou que os abusos ocorreram “centenas de vezes”, mesmo sem envolvimento constante de violência física.

Em uma das situações mais graves, segundo Giuliana, Igor jogou uma cadeira contra a mãe dela dentro da loja, que estava em funcionamento e com a presença de funcionários — incluindo uma gestante — e clientes.

“O meu ex-marido quebrar meu escritório enquanto a minha loja estava aberta, em pleno funcionamento, em dezembro do ano passado, já era uma violência. Todos os meus colaboradores ouviram o que aconteceu. Clientes ouviram os chutes e socos na porta e a gerente da minha loja, que é familiar do meu ex-marido, disse que estávamos tendo uma obra. E eu só pensava que não queria passar vergonha de, depois de tantos anos trabalhando e me dedicando, eu não queria que uma viatura chegasse na porta da minha loja e levasse [ele] preso. Essa não era a minha intenção. A obra era o meu escritório sendo quebrado e eu sendo intimidada”, relatou.

Nas imagens compartilhadas nos vídeos é possível ver paredes com rachaduras e objetos danificados no local após o episódio.

Entre os relatos feitos por Giuliana, ela menciona o momento em que então marido arremessou um celular em seu rosto e a agrediu poucos dias após uma cirurgia.

“Com quatro dias que eu estava operada de uma cirurgia de grande porte, eu fui chacoalhada, toda costurada, na frente da minha colaboradora que trabalhava comigo há anos, na minha casa. Eu pedi para ela pegar um dinheiro que eu tinha na minha bolsa, R$ 235, porque se de alguma forma ele me ameaçar, ameaçar a minha integridade física sem que eu possa me defender, você pede um carro por aplicativo e me ajuda a fugir. E foi muito triste para mim viver isso durante muitos anos e não reconhecer”, disse.

Giuliana também denunciou a violência patrimonial — forma de abuso prevista na Lei Maria da Penha — e afirmou que, embora as contas estivessem em seu nome, ela não tinha controle sobre as finanças da empresa nem acesso ao próprio dinheiro.

“Eu nunca tive acesso a nenhuma conta bancária. Eu nunca tive acesso a um pix. Hoje eu entendo que isso também foi uma forma de controle. Não tinha cartão de crédito, não tinha nada. Eu não tinha autonomia. Eu posso falar das centenas de vezes que a minha colaboradora, que trabalhava comigo na minha casa, comprou pão para a gente tomar café da manhã porque eu não tinha dinheiro”, relatou.

Giuliana afirmou também que desconhecia detalhes dos bens adquiridos.

“Se eu comprasse um apartamento eu não sabia quanto custou, em que andar ele era, qual era o número do apartamento, e muitas pessoas corroboraram com isso. Eu tinha uma empresa para gerir e o financeiro da minha empresa era terceirizado. Mas toda vez que eu buscava informações a respeito do setor financeiro da minha empresa, me era negado. Eu era humilhada.”

A empresária citou ainda uma tentativa do ex-marido de desacreditá-la publicamente.

“Ele insistiu, insistiu [para que eu perdesse o controle]. Quando eu gritei, ele pegou o celular me filmou e disse ‘eu vou mostrar para todo mundo que você é uma louca, é uma desequilibrada’. E aí vem, talvez, a parte mais decepcionante de tudo isso, que foi mais um motivo que me fez sair do Brasil e vir para cá. Ele pretendia me internar em uma clínica psiquiátrica e já tinha externado [essa vontade] para terceiro, inclusive para a minha melhor amiga. Ele estava tentando conseguir um laudo meu de insanidade mental”.

Segundo Giuliana, Igor costumava deixar a casa e se isolar em outro imóvel sempre que ocorriam brigas, o que impactava diretamente o funcionamento da empresa. Ela relatou que, após uma dessas saídas, ficou completamente sem recursos.

“Ele saiu de casa e me deixou sem nem um real, com 30 dias de operada. Eu estava sem carro, sem cartão de crédito, não tinha pix e nem dinheiro ‘vivo’ [em espécie]. Isso foi em um sábado à noite e no domingo eu achei que não dava mais para aguentar tudo e tomei coragem para contar para o meu irmão tudo o que eu passava. Meu irmão parou a vida dele para segurar na minha mão e me dizer que eu conseguiria sair disso. Eu não acreditava que tinha saída”, desabafou.

Investigações

A defesa da vítima confirmou que Giuliana passou 15 dias fora do país e retornou a Maceió na última terça-feira (22) e deve prestar depoimento na próxima sexta-feira (25).

Um dos pontos a ser investigação deverá ser a do suposto desvio de valores que estaria sendo cometido pelo ex-marido, com ajuda de uma parente dele, funcionária da loja. Além disso, a própria inclusão dele como sócio da empresa, que teria ocorrido de forma fraudulenta no ano de 2023, após Giuliana assinar um documento sem conhecimento pleno do teor, também será alvo dos trabalhos da Polícia Civil.

A delegada Ana Luiza Nogueira, coordenadora das Delegacias Especializadas em Atendimento à Mulher (DEAMs) e responsável pelas investigações, confirmou que o caso foi registrado de forma virtual e um inquérito foi instaurado.

“Ela fez todo o boletim de forma virtual. Em casa, ela não precisou ir para delegacia. Ela estava fora do país, mas ela será ouvida nos próximos dias. A polícia busca robustecer toda as denúncias, buscando provas para responsabilizar o agressor no âmbito judicial. O importe é denunciar para que a polícia busque de forma célere investigar e quebre o ciclo de violência”, declarou em entrevista à imprensa.

Outras formas de violência

A delegada reforçou a importância de se reconhecer as diversas formas de violência previstas na Lei Maria da Penha. Além das mais conhecidas — física, moral e sexual — também é essencial falar sobre a violência psicológica e patrimonial.

Neste caso, a violência psicológica se configura como qualquer comportamento que cause dano emocional ou psicológico, como humilhação e constrangimento. Já a violência patrimonial ocorre quando o agressor controla os recursos da vítima, destrói bens ou se apropria deles.

Como denunciar

É possível registrar boletins de ocorrência presencialmente nas DEAMs, em Maceió e Arapiraca; no Núcleo da Mulher, localizado no Complexo de Delegacias Especializadas (Code), também na capital; em delegacias dos municípios do interior; ou de forma online. É importante que as mulheres busquem ajuda para romper com o ciclo de violência.



Fonte: Alagoas 24 Horas

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