O Ministério da Educação (MEC) avalia aplicar o Enem em capitais do Mercosul — Buenos Aires, Montevidéu e Assunção — a partir de 2026. A proposta abriria caminho para que estrangeiros realizassem o exame brasileiro e disputassem vagas em universidades públicas do país. Segundo o governo, a intenção seria “aprofundar a integração regional” e facilitar o acesso de quem vive no exterior ao ensino superior brasileiro.
O que o governo não menciona, porém, é que o Brasil já não consegue atender plenamente sua própria demanda interna. Todos os anos, milhões de estudantes concorrem a um número restrito de vagas públicas, cenário que se torna ainda mais limitado com a ampliação das cotas — raciais, sociais, regionais e escolares — que reduzem o espaço de quem disputa pela ampla concorrência.
Apesar desse contexto, o governo Lula deseja incluir estudantes estrangeiros na disputa, como se o sistema atual não estivesse sobrecarregado. O próprio MEC admite que não sabe quantos candidatos de outros países fariam o exame nem qual seria o impacto sobre a oferta de vagas.
Paralelamente, o anúncio surge em meio a desafios profundos enfrentados pelo ensino público brasileiro: evasão escolar crescente, resultados abaixo do esperado, infraestrutura defasada e escassez de professores. Em vez de priorizar soluções estruturais para problemas internos, o governo aposta em mais uma iniciativa com apelo internacional.
A proposta também suscita questões sobre custos, logística, segurança e efeitos práticos no processo seletivo. Aplicar o Enem no exterior demanda uma estrutura complexa, sendo que o Inep já enfrenta dificuldades para garantir organização plena dentro do próprio território brasileiro, onde atrasos, confusões e falhas são recorrentes.
Enquanto isso, estudantes brasileiros continuam lidando com desafios como:
- insuficiência de vagas;
- disputa desigual em razão das múltiplas modalidades de cotas;
- obstáculos para acessar ensino de qualidade;
- pressão crescente dentro de um sistema que não oferece retorno proporcional.
Mesmo diante desse cenário, o governo Lula opta por internacionalizar o Enem antes de garantir condições básicas e oportunidades mais justas para os jovens brasileiros.


