A Polícia Federal (PF) iniciou uma investigação após uma série de ataques cibernéticos direcionados a parlamentares da ala conservadora que apoiam o Projeto de Lei 1.904/2024, o chamado PL do Aborto.
Os ataques digitais, considerados pela corporação como “coordenados”, chegaram a derrubar sites oficiais de deputados federais e, no caso do endereço de Eduardo Bolsonaro (PL-SP), exibiram um antigo tuíte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O episódio, que ocorreu em junho de 2024, voltou a ser investigado nesta terça-feira (2/12), quando a PF deflagrou a Operação Intolerans com o objetivo de apurar ataques do tipo DDoS (negação de serviço).
Durante a operação, foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão nas cidades de São Paulo e Curitiba, como parte das medidas para identificar os responsáveis pelos ataques.
A ação da PF busca esclarecer a coordenação por trás dos ataques cibernéticos e reforçar a segurança digital dos parlamentares envolvidos na tramitação do projeto de lei.
Ataque exibiu postagem de Lula no site de Eduardo Bolsonaro
Na ocasião, o site de Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, saiu do ar e passou a exibir um post de 2018 em que Lula compartilhava uma foto do parlamentar sem camisa. A página permaneceu instável até que a equipe técnica do deputado conseguiu retomar o controle do domínio.
A Polícia Federal afirma que o ataque não foi um caso isolado. Outros parlamentares da bancada bolsonarista também tiveram seus sites derrubados, entre eles Bia Kicis (DF), Alexandre Ramagem (RJ) e Delegado Paulo Bilynskyj (SP). Em todos os casos, as páginas ficaram indisponíveis por longos períodos.
Nas redes sociais, um perfil anônimo no X (antigo Twitter) assumiu a autoria dos ataques e publicou uma mensagem afirmando: “Está proibido ter site se você pertence à bancada do estupro”, em referência ao apoio dos parlamentares ao PL 1.904.
PF aponta ação coordenada e amplia investigações
A Polícia Federal aponta que os ataques apresentavam um padrão técnico semelhante. Uma grande quantidade de acessos artificiais gerou instabilidade nos servidores, bloqueando o funcionamento dos sites institucionais.
Com a deflagração da Operação Intolerans, a PF busca identificar todos os responsáveis pelos ataques, incluindo possíveis articuladores estrangeiros, já que a ação envolveu etapas de cooperação internacional.
Por que os deputados foram alvo
O ataque aconteceu em um período de grande tensão no país, quando manifestações contra e a favor do PL do Aborto se espalharam por diversas capitais.
O projeto, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), prevê um limite de 22 semanas para a realização de abortos legais, incluindo casos de estupro, gerando forte repercussão e reação social.
Entre os parlamentares que se posicionaram publicamente a favor do texto estavam Eduardo Bolsonaro, Alexandre Ramagem, Bia Kicis e Delegado Paulo Bilynskyj, tornando-os alvos preferenciais dos ataques cibernéticos.
O que diz o PL 1.904
O projeto equipara a interrupção da gravidez após 22 semanas ao crime de homicídio simples, com pena que varia de seis a 20 anos, punição mais dura que a prevista para o estuprador em diversos cenários, o que gerou críticas de entidades, juristas e movimentos sociais.


