O ex-deputado federal e atual prefeito de Cuiabá, Abílio Brunini (PL-MT), foi acusado de praticar violência política de gênero e racismo durante a 15ª Conferência Municipal de Saúde. A controvérsia ocorreu quando ele interrompeu o discurso da professora Maria Inês da Silva Barbosa, que utilizou o pronome neutro “todes” em sua fala.
Maria Inês, mestre em Serviço Social, doutora em Saúde Pública pela USP e professora aposentada da UFMT, acabou deixando o evento após uma discussão acalorada com o prefeito. O episódio gerou repercussão e críticas sobre a postura de Brunini no encontro.
“Durante a minha gestão, não vou aceitar a manifestação de pronome neutro, não vou aceitar doutrinação ideológica. Nós vamos fazer a discussão da saúde de Cuiabá conforme as nossas regras. Se a senhora não se sentir à vontade para conduzir uma apresentação que discuta a saúde do município de Cuiabá sem doutrinação ideológica e sem manifestação de pronome neutro, eu vou suspender a apresentação”, disse Brunini.
“Eu só tenho a dizer ao senhor, com todo respeito à sua forma de pensar, que eu tenho uma forma de pensar distinta. Quando eu falo de equidade, eu tenho que considerar todos, todas e todes. Eu estou falando do acesso universal. O acesso universal igualitário é para todos, todas e todes. O senhor não se preocupe, porque o senhor não vai precisar me retirar da sala, porque eu mesma me retiro”, respondeu a professora aposentada da UFMT.
Repercussão
Organizações relacionadas à saúde, aos direitos das mulheres e das pessoas negras divulgaram notas de repúdio contra a conduta de Brunini. Nos documentos, o prefeito foi acusado de exercer violência política de gênero de maneira “antidemocrática”, “autoritária”, além de atitudes “racistas” e “misóginas”.
“Nós não vamos aceitar a tentativa de censura e apagamento das identidades e, principalmente, o silenciamento de uma mulher negra, especialmente como a companheira Maria Inês, que teve um papel estratégico na formulação da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra”, afirmou a Rede de Mulheres Negras do Nordeste, composta por 35 organizações filiadas.
“Este episódio trata-se de uma ação racista, misógina e autoritária, que se soma a outros posicionamentos perigosos e desinformativos do prefeito de Cuiabá”, disse o Odara – Instituto da Mulher Negra, organização criada na Bahia.
A prefeitura de Cuiabá divulgou uma nota sobre o ocorrido, informando que, por determinação do prefeito Brunini, o uso de linguagem neutra é proibido em eventos e espaços patrocinados pelo Executivo Municipal. A justificativa apresentada reforça o “compromisso com a preservação da norma culta da língua portuguesa e a neutralidade ideológica das ações públicas”.